Monday, November 08, 2004

"E é justamente por tudo isto que podemos concluir..."

... que Ricardo é o salvador; Ricardo é o nosso herói; Ricardo é o senhor.

Praxes Académicas

DIREITA SOLIDÁRIA
Bernardo d’Orey Vasconcellos e Souza e d’Andrade


A altura das praxes é das mais bonitas da vida académica. Milhares de caloiros chegam todos os anos às universidades e sentem-se naturalmente deslocados, tentando descobrir qual é o seu lugar. É então que os veteranos lhes explicam: o seu lugar é abaixo deles. E pronto, fica definido. Acabam-se as dúvidas.
Mas ajudar os outros ao mesmo tempo que os divertimos não é tarefa fácil. Pois bem, os estudantes conseguem-no. As caloiras apresentam-se na universidade inibidas? Então, os colegas mais velhos obrigam-nas a despir a roupa e a simular a prática de sexo oral com um companheiro. Lá está: é divertido e desinibe. Pelo menos, na minha experiência pessoal, o sexo oral esteve sempre associado ao divertimento e à desinibição. E os caloiros? Estão contraídos e envergonhados? Enfarrusquem-se-lhes os rostos com tinta e aplique-se-lhes um bom par de tabefes. Não há nada como um bom banano bem assente na cara para nos fazer espevitar.
As praxes educam para a vida em sociedade, e ensinam que as hierarquias fazem falta. As pessoas que estão em posição de subalternidade desejam subir na escala social para passarem a ser elas a esmagar quem está por baixo. É este o motor que faz andar o mundo. Já a igualdade, estagna. O que me faz ter esperança no futuro da humanidade é o desejo inato que todos os homens têm de esmagar outros homens.
Mais: na praxe, temos o mais forte a exercer o seu poder sobre o mais fraco. Ou seja, trata-se de reproduzir a natureza, que é tão bonita. Um lago ou uma montanha são tão lindos como um leão a comer uma gazela. E um leão a comer uma gazela é tão lindo como um veterano a obrigar um caloiro a beber vinte e três copos cheios de bagaço. Com a diferença de, além de lindo, isto ser engraçado. O coma alcoólico é o mais divertido dos comas, digam o que disserem. Quer acabar com uma tradição tão gira só porque, de vez em quando, alguém se aleija com gravidade, parece-me, francamente, reprovável.